Mamonas Assassinas: ídolos musicais de uma geração. Entre seus inúmeros trabalhos estão as conhecidas canções "Robocop Gay" e "Pelados em Santos". Pode-se adicionar a esta lista uma canção que não é simplesmente uma canção, mas um profecia: "Chopis Centis". Esta canção retrata a recente ascensão econômica da chamada classe C, que com maior poder aquisitivo começou a comprar diversos eletroeletrônicos que até então eram privilégio das classes mais favorecidas. Isto pode ser visto no trecho "A minha felicidade / É um crediário / Nas Casas Bahia". Nesta mesma música há um outro trecho muito interessante:
Esse tal "Chópis Cêntis"
É muicho legalzinho,
Pra levar as namoradas
E dar uns rolêzinhos
Pois é. A profecia fez-se cumprir. A classe média ascendeu (pelo menos é o que parece).
Agora jovens de periferia também têm acesso aos mesmos meios de entretenimento que a classe média. Um destes meios são os shopping centers, onde a juventude caminha de um lado para o outro nos fins de semana, e fazem um "social". Agora os jovens de periferia também resolveram fazer a mesma coisa. Qual o problema? Na visão dos agentes da lei, governantes, donos de shopping e das classes mais ricas, o problema é: "Éééééé..... Éééé... Ah, eles não deviam marcar de vir ao shopping todos de uma só vez, no mesmo dia". [E ainda dizem que os jovens que participam deste rolezinhos - designa-los-ei apenas por "rolezeiros" - precisam de mais educação, mesmo sendo esta hipócrita classe privilegiada incapaz de argumentar lógica e coerentemente.] Então, qual é o problema? Eu direi qual é o problema. Os ricos não gostam de ver pobres (arriscaria dizer pretos, já que a correlação é óbvia por razões históricas) nos locais tradicionalmente frequentados por eles. Isto não "agrega valor ao camarote". Podemos fazer uma analogia com os Estados Unidos e Europa no final do século XIX e início do século XX, quando da dicotomização política e social (mas não econômica) entre a aristocracia (old money) e os nouveau riche (new money).
Nas discussões recentes sobre os rolezinhos tenho visto que não há argumentos de verdade para vedar o acesso dos rolezeiros ao Chopis Centis. Existe apenas uma estúpida lei que qualifica qualquer agremiação não autorizada como crime. Nós, enquanto indivíduos livres, não devemos aceitar leis que decidam com quem, quantos, onde, ou quando podemos nos encontrar. Este tipo de restrição é conveniente a Estados totalitaristas que querem suprimir agremiações potencialmente perigosas à manutenção do governo e da ordem vigente. Enquanto o Estado interferir na economia, todos os estabelecimentos comerciais, incluindo os shoppings, devem tratar os potenciais consumidores igualmente, incluindo rolezeiros, brancos, pretos, azuis, homens, mulheres, transsexuais, hermafroditas, etc. Mesmo sendo o shopping uma propriedade privada, ele é, antes de tudo, um estabelecimento comercial, e deve permitir o acesso de todas as pessoas, conforme a lei que protege os cidadãos da discriminação.
Faço aqui um parênteses para expor minha real opinião. O Estado interfere excessivamente na economia e na vida das pessoas. Seu papel deveria ser minimizado. Não estou propondo um anarquismo total, pois não acho que todos os seres humanos já estejam preparados para a verdadeira anarquia e para a auto-gestão, mas um Estado mínimo, algo próximo à minarquia, nos moldes do pensamento objetivista de Ayn Rand. Neste cenário, prevaleceria o verdadeiro livre mercado, que por definição não sofre interferência estatal. E o que isto tem a ver com os rolezinhos? Neste meu mundo quase-ideal, por ser o shopping uma propriedade privada, é direito do dono restringir o acesso, permitindo a entrada apenas de pessoal autorizado. Sendo assim, os rolezeiros teriam que ir rolezar em outro lugar.
À parte cenários ideais presentes em meu pensamento, no mundo real o shopping não pode impedir a entrada de ninguém. É possível restringir o número máximo de pessoas no shopping por razões de segurança, mas não quem efetivamente está lá dentro.
Outra questão relevante é a real motivação dos rolezinhos. Os rolezeiros dizem não estar protestando contra nada. Eles só querem ir ao shopping, "levar as namoradas, e dar uns rolezinhos", e ostentar roupas, calçados e acessórios extremamente caros numa frívola disputa por sei-lá-o-quê. Não sei como pagam por isto, já que eu que trabalho mais de 10 horas por dia, tenho um celular antigo, e quando preciso comprar um tênis acho 150 reais caro. Desde que realmente paguem honestamente por estas coisas - isto inclui parcelar a dívida em 1000 vezes - eu não dou a mínima. Quer ostentar? Vai ostentar na PQP, na casa da vovó, ou no shopping, não é meu problema. Vocês são livres para ostentar onde quiserem, assim como eu sou livre para achar isto ridículo (mas ainda assim defendo o direito dos rolezeiros de serem o que quiserem - incluindo ridículos).
O que escreverei agora aplica-se apenas aos rolezeiros ostentadores, que são a maioria. O que me preocupa é a matemática. Eu sei que os pais de muitos rolezeiros trabalham em 2 ou mais empregos, e por isto conseguem proporcionar uma "melhor" qualidade de vida aos seus filhos. Outros rolezeiros trabalham quatro meses para comprar a camiseta que usa. Mas não sejamos ingênuos. Não é possível que todos eles tenham todos aqueles produtos sem terem apelado para meios ilícitos. Não estou acusando ninguém de roubo. Apenas chamo atenção para o óbvio que tem sido esquecido em prol daquele discursinho pseudo-intelectual, que tenta atribuir um diferente caráter (sociopolítico) a uma mera bagunça de jovens: o fato de que a matemática não está correta!
Encerro com um discurso interessante supostamente publicado por um rolezeiro que organizou um dos rolezinhos. Meu recado para os revolucionários-wannabe protetores dos fra(s)cos e (c)o(m)primidos: vejam a última parte grifada.