Nesta triste manhã de segunda-feira, 29 de outubro de 2018, tento escrever este texto. Gostaria de entender o que estou sentindo para poder compartilhar aqui, mas tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu. Este misto de tristeza e ódio me remetem ao menino de 2018 a quem de chamavam anarquista. Porém meu ódio é o melhor de mim. Com ele me salvo e dou a poucos uma esperança mínima.
Sei que escrevo com muito ódio, e deixo transparecer minha dor. Mas sei que uma dor assim pungente não há de ser inutilmente a esperança. Por isto, resolvi escrever este texto.
Os termos "fascismo" e "comunismo" foram usadas demasiadas vezes fora de contexto durante este período eleitoral. Nem os "vermelhos", nem eu, nem ninguém está dizendo aos trabalhadores do mundo para uni-vos. Assim como não estávamos presenciando uma ameaça comunista, quero acreditar que não estamos presenciando uma ameaça fascista. Por hora, mesmo que eu não goste do resultado das eleições, este foi um pleito democrático. Respeita-lo-ei. Com "sorte", após algum tempo de governo ruim, veremos que os receios de um regime autoritário foram exacerbados.
Como o Brasil está em crise, acredito que qualquer plano econômico já conseguirá significativas melhoras. Acredito que o Legislativo e o Judiciário possam conter um pouco do avanço das agendas retrógradas do Executivo.
Não acredito que este seja o Reveillón de 2018 para 1964. Não quero acreditar nas coisas que aprendi nos livros. Não quero acreditar que ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais. Espero não estar errado ao supor que mesmo que os pensamentos de Bolsonaro sejam abomináveis, ele não implementará tudo o que disse (nem acho que ele seja inteligente o suficiente para tal).
Ele já legitimou, através de sua candidatura, muitos discursos de ódio latentes em nossa sociedade. Ataques a minorias, a índios, a negros, já começaram. Não pensam os agressores que somos todos iguais, braços dados ou não. A todxs que temem por sua integridade física: não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Aos eleitores do Bolsonaro, só tenho uma coisa a dizer: a cada pessoa que for linchada - sim, é isto que seus discursos incitam e é isto que já tem acontecido - eu lembrarei de vocês. A cada universidade que for invadida, eu lembrarei de vocês. E se o que muitos temem acontecer (um golpe militar), eu lembrarei de vocês. Não permitirei que a roda viva carregue este teclado pra lá.
Muitos votaram 17 por ignorância. Perdoe o cidadão esperançado minha lembrança de ações miseráveis, que levantam os homens do passado. No entanto, muitos decidiram conscientemente ignorar os avisos. Tomara que eu esteja errado e não chegue a este ponto, mas vocês são responsáveis pelo que acontecer de agora em diante. Apesar de vocêS amanhã há de ser outro dia.
É triste ver os filhos da revolução, a geração coca-cola, votar em capitão de zero estrelas que fica atrás da mesa com o cu na mão. Independentemente de como ele governe, já perdemos ao deixar alguém assim chegar tão longe. Já perdemos ao permitir que seu discurso fosse materializado e legitimizado.
Mas não nos entristeçamos. Vejamos isto como uma oportunidade, afinal, uma flor nasceu na rua! É feia. Mas é realmente uma flor. Esta pode ser a primeira flor da primavera. Ela pode ser a gota que falta pro desfecho da festa. Pode ser a gota d'água.
Mas não nos entristeçamos. Vejamos isto como uma oportunidade, afinal, uma flor nasceu na rua! É feia. Mas é realmente uma flor. Esta pode ser a primeira flor da primavera. Ela pode ser a gota que falta pro desfecho da festa. Pode ser a gota d'água.