sábado, 12 de janeiro de 2013

Campanha pela Ciência Livre e a Morte de Aaron Swartz

Hoje fiquei sabendo da morte Aaron Swartz (08/11/1986-11/01/2013), programador e cyberativista. Para quem não o conhece, Aaron Swartz foi um dos criadores do RSS (RDF Summary Site),  que são os resumos do texto juntamente com o link para versões completas. Ele também foi cofundador do site Reddit e um grupo de ativismo online chamado Demand Progress. Aaron cometeu suicídio no dia 11 de janeiro de 2013.
Desde julho de 2011 Aaron estava preso sob alegações de crimes virtuais. O principal motivo foi sua engenhosa ideia de fazer o download de quase 5 milhões de artigos científicos do site JSTOR e disponibilizá-los livremente na internet. É sobre isto que comentarei no restante deste texto.
Pensemos agora: 
- a Ciência tem, em grande parte, financiamento público; 
- os cientistas produzem artigos como resultados de pesquisas financiadas pelo público; 
- os artigos são publicados em periódicos de acesso restrito (o público precisa pagar para acessá-los).
WHAT THE FUCK? É como você comprar os ingredientes para um bolo, da-los a alguém para confeita-lo, e no final ter que pagar (muito mais caro que o preço dos ingredientes) pelo bolo cujos ingredientes você mesmo pagou. Naturalmente, esta situação é absurda.
O problema não é tão simples, visto que os periódicos precisam de um certo financiamento para impressão (que hoje em dia eu considero desnecessária, já que é mais fácil selecionar o artigo de interesse e imprimi-lo), manutenção do site, etc. Os custos supracitados são baixíssimos, de forma que uma pequena taxa paga pelos autores de artigos já seria suficiente para cobri-los. Não quero discutir aqui quem deveria financiar isto.
Vale ressaltar que artigos científicos são avaliados por pares, ou seja, existem pessoas que fazem a avaliação e revisão para garantir sua qualidade, processo este conhecido como peer reviewing. Estes revisores geralmente não recebem nem um centavo, e o editor do artigo (responsável por enquadrar o artigo nos padrões do periódico em questão, e fazer a comunicação entre autor e avaliador) muitas vezes também não.
Em resumo: no processo de publicação de artigos científicos há muita gente lucrando, menos os que efetivamente trabalham (autores e avaliadores). Existem exemplos de periódicos científicos que praticam conceitos de Open Science, que são os Open Journals. O problema com estes periódicos é que seu fator de impacto é, em geral, mais baixo que o dos demais de acesso restrito. No Brasil e em várias outras partes do mundo, esta métrica acadêmica afeta a concessão de recursos financeiros, desestimulando a publicação em periódicos de acesso aberto.
Voltemos ao tema inicial: o livre acesso aos artigos científicos. Existe uma organização chamada PLOS que advoga pelo livre acesso à informação científica. Peço aos meus caros colegas cientistas e acadêmicos em geral que leiam um pouco sobre o assunto e tentem romper com este paradigma. Tentem privilegiar periódicos open access e espalhem a mensagem. 
Às pessoas que não têm acesso mas têm interesse em artigos acadêmicos cujo acesso é restrito, escrevam a pessoas que têm acesso pedindo-lhes que enviem os textos de interesse. Se possível, usem  softwares peer-to-peer para isto. Afinal, compartilhar conhecimento não deveria ser um crime.


Links relacionados:
http://tech.mit.edu/V132/N61/swartz.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Aaron_Swartz
http://www.nytimes.com/2011/07/20/us/20compute.html?_r=0
http://www.guardian.co.uk/science/2012/apr/09/wellcome-trust-academic-spring
http://www.plos.org/
http://blogs.estadao.com.br/tatiana-dias/nao-foi-em-vao-aaron-swartz/