Ontem, 18 de junho de 2013, foi realizada uma manifestação na cidade de Hamburgo, Alemanha, em apoio aos protestos que estão ocorrendo no Brasil. A manifestação foi pacífica, e reuniu mais de 250 pessoas. Apenas quatro policiais acompanhava a multidão que caminhava cantando as mesmas coisas de sempre "O povo, unido, jamais será vencido", e outros conhecidos gritos-de-guerra de manifestações.
Esta imagem resume muito bem o protesto: pessoas de diversas idades, etnias e credos caminhando juntos em prol de um país melhor. Também é possível ver nesta imagem uma pessoa sentada em uma cadeira de rodas, participando normalmente da manifestação. No Brasil, uma pessoa em uma cadeira de rodas provavelmente não participaria das manifestações, já que não daria tempo de fugir do gás lacrimogêneo. O ambiente agradável deste protesto, fez dele uma mani-festa-ação, com diversão, reflexões e discussões, dando maior visibilidade à causa, e criando um ambiente adequado para discutir os problemas, e definir novas metas.
A primeira observação interessante: mal começou a concentração de pessoas em frente à Estação Central de Hamburgo, já tinha algumas pessoas puxando o coro do Hino Nacional. Foi uma belíssima cena ouvir diversas vozes cantando em uníssono nosso hino. No entanto, no momento em que deveriam cantar "Deitado eternamente em berço...", começou a confusão e a canção parou. Eu particularmente não acho o Hino Nacional adequado para manifestações democráticas, já que ele é o símbolo da subversão da democracia em prol do elitismo, uma vez que quando foi criado ele perdeu o concurso, mas devido à influência de alguns, acabou se tornando o Hino Nacional Brasileiro.
Apesar do protesto ter sido excelente em alguns aspectos, em outros aspectos deixou a desejar. As pessoas que mais falavam ao megafone, que de fato transmitiam a imagem do movimento, elas levantavam questões irrelevantes e/ou risíveis. Estas pessoas fugiam ao tema e em alguns momentos iniciaram um grito "13 unter" ("abaixo o 13", referindo-se ao PT). Lamentável terem perdido tempo com isto. Outro sujeito tentou defender o que ele chama de "impeachment" da Dilma. Ele nem ao menos conhece o conceito da palavra impeachment, e não soube explicar as razões para "impeachmá-la".
Um dos mais belos momentos da passeata foi quando cantamos "Pra não dizer que eu não falei das flores", de Geraldo Vandré (ver vídeo1). Acho que esta música é mais adequada para uma revolução, e não para a situação atual, mas ainda assim causa arrepios.
No geral a manifestação foi tranquila e muito boa, apesar dos deslizes individuais. Conseguimos chamar a atenção do povo alemão para os problemas do Brasil. A imprensa cobriu o evento e entrevistou muitas pessoas (é disto que eu tenho medo). Resta agora pensar nos próximos passos do movimento. Já é hora de fazer a pauta tem de convergir para algo concreto!
As fotos da manifestação estão disponíveis em: link
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Encerro aqui com um belíssimo poema escrito pelo meu amigo Nícollas Ranieri que foi publicado numa antologia de poemas inspirados pelos acontecimentos recentes.
#PARTIU, VINAGRE
O ar, irrespirável,
é o que todos sabem.
E por isso vamos para a rua.
Pede-se passagem.
Porque irrespiráveis são os ônibus,
os metrôs, e as salas com
ar-condicionado
onde desempenhamos
o vulgo papel civilizado.
E sabemos que estamos
condicionados.
Admirável mundo novo, o
niilismo, o cinismo,
também se esgota.
E todo o nosso esgoto
está batendo à porta.
Mas onde já se viu? Chamamos
de desobediência civil.
Já decidiram: querem nos sufocar.
Bombas de gás lacrimogêneo,
balas de borracha.
Para demarcar terreno,
impedir o centro,
impor a margem.
Mas pede-se passagem.
Não estamos mais sentados,
e ainda pensam que é por centavos.
É uma questão de tempero,
de sabor, de salada.
Para alguns não é nada,
e talvez não seja bem um milagre,
mas ainda temos o vinagre.
Nícollas Ranieri
#PARTIU, VINAGRE
O ar, irrespirável,
é o que todos sabem.
E por isso vamos para a rua.
Pede-se passagem.
Porque irrespiráveis são os ônibus,
os metrôs, e as salas com
ar-condicionado
onde desempenhamos
o vulgo papel civilizado.
E sabemos que estamos
condicionados.
Admirável mundo novo, o
niilismo, o cinismo,
também se esgota.
E todo o nosso esgoto
está batendo à porta.
Mas onde já se viu? Chamamos
de desobediência civil.
Já decidiram: querem nos sufocar.
Bombas de gás lacrimogêneo,
balas de borracha.
Para demarcar terreno,
impedir o centro,
impor a margem.
Mas pede-se passagem.
Não estamos mais sentados,
e ainda pensam que é por centavos.
É uma questão de tempero,
de sabor, de salada.
Para alguns não é nada,
e talvez não seja bem um milagre,
mas ainda temos o vinagre.
Nícollas Ranieri