sexta-feira, 14 de junho de 2013

Guy Fawkes e a "baderna" em São Paulo

Os recentes eventos em São Paulo têm ocupado grande parte da minha News Feed do Facebook. Vi que estes eventos tiveram uma repercussão internacional, e diversas pessoas de outras partes do mundo têm compartilhado links com textos de jornais de seus países tratando sobre este tema. Naturalmente, não posso ficar alheio a isto, e venho aqui fazer o que todos fazem (ou adoram fazer): apontar o dedo para os culpados.

Eu fico indignado ao ler o que os revolucionariozinhos filhinhos de papai postam de seus iPhones: como a polícia é má, e como os manifestantes foram injustamente tratados. Sim, parte da polícia é má, e parte dos manifestantes (e dos coitados que estavam no lugar errado na hora errada) foram injustamente tratados. Mas parte dos manifestantes são baderneiros, vândalos, e acho que merecem borrachada.

Também fico indignado ao ver na TV as máscaras do filme V de Vingança ocultando a face de alguns criminosos, enquanto os verdadeiros manifestantes estão mostrando abertamente seus rostos. Lembro-me de como esta máscara outrora simbolizara a transformação, o fim de um regime opressor e a transição para um regime democrático, a liberdade de expressão, a união das pessoas sob uma única bandeira e identidade. Espero que esta máscara seja lembrada juntamente com as reais manifestações em prol da liberdade, e não como o símbolo dos baderneiros que fizeram parte deste belo movimento.

Primeiramente, o que desencadeou esta onda de manifestações? O aumento das tarifas de ônibus de R$ 3,00 para R$ 3,20. Parece pouco, mas este aumento tem profundas implicações para as classes econômicas menos favorecidas. Recomendo este texto que mostra que este aumento implicaria que pessoas de baixa renda seriam obrigadas a pular refeições. Não vou nem comentar sobre a qualidade do transporte público em São Paulo, que todos sabemos que é péssima.

Há tempos eu não via uma manifestação popular no Brasil que tenha tomado tal dimensão. Fico realmente feliz por isto. As redes sociais (e portanto a internet) cumpriram seu papel de mobilizar multidões e leva-las às ruas. Dentre os manifestantes, diversos utilizam máscaras de Guy Fawkes, imortalizado através do personagem V de Vingança, o herói anarquista que inicia a revolução contra um governo fascista. Começa aqui a analogia que só existe na mente de alguns: o governo brasileiro pode ter muitos defeitos, mas certamente não é fascista. E se a proposta da manifestação é ser pacífica, por que esconder o rosto atrás de máscaras? Apesar de ser um grande fã de V de Vingança e um admirador do valor simbólico da máscara de Guy Fawkes, seu uso neste contexto é desnecessário. Ela foi erroneamente utilizada por baderneiros que queriam cometer atos de vandalismo, ocultar suas faces, e se mesclar à multidão. Estes baderneiros não só sujam a imagem do movimento mas também denigrem o valor simbólico da máscara, utilizada em belos movimentos populares durante a Primavera Árabe. Esta mesma máscara é utilizada pelo grupo hacktivista Anonymous em vídeos de suas operações.

Obviamente a proposta do protesto era ser pacífico, e utilizar o poder da mobilização popular para atingir o objetivo de reduzir o preço da tarifa de ônibus. Um grupo de baderneiros se juntou ao movimento para cometer atos de vandalismo, e manchou o nome de todo o movimento. Por isto, peço a todos aqueles que realmente desejam fazer manifestações pacíficas, que denunciem estas pessoas, ou se preferirem agressão, que seja contra estes inimigos internos.

Voltemos nossa atenção agora às ações da Polícia. A Polícia, assim como o movimento, é formada por policiais "bons" e "maus". Muitos deles com seu medíocre salário precisam utilizar ônibus e outras formas de transporte público diariamente, e seguramente estão torcendo pela redução da tarifa. No entanto, é o trabalho deles garantir a ordem, e evitar que o patrimônio público seja depredado por um pequeno grupo de vândalos, o câncer deste movimento.  Por outro lado também sei que existem policiais maus, sádicos, que se juntaram à força policial apenas para oprimir e gozar do poder que o ofício lhes confere, poder este que permite a consumação de atos de violência descabida, sem acarretar a devida condenação.

Portanto, existem dois (talvez) lados deste movimento, e também da polícia. Existem manifestantes bons e maus, assim como existem policiais bons e maus. Cabe aos próprios manifestantes eliminarem o câncer do seu movimento (os vândalos), ao governo e à própria força policial identificar e punir os policiais opressores, e a todos  suportar a maior manifestação popular no Brasil dos últimos tempos.