sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

PANCOMPUTACIONALISMO

Como podemos observar o mundo sendo que fazemos parte deste? Esta pergunta foi feita por Descartes no século XVII. Segundo Descartes, nosso acesso ao mundo sempre dá-se de forma indireta. Em uma de suas cartas ele declarou-se “convencido de que não é possível obter nenhum conhecimento de seu exterior exceto pela mediação das idéias que eu tenho”. Isto significa que nosso acesso ao mundo sempre é indireto. Mais tarde Immanuel Kant argumentou que os seres humanos não poderiam conhecer a realidade como ela é, mas apenas a representação mental do que consideram realidade.

Considerações filosóficas à parte, gostaria de discorrer acerca de um neologismo com o qual me deparei: “pancomputationalism”, que suponho que possa ser traduzido como “pancomputacionalismo”. Pancomputacionalismo está relacionado à idéia de que vivemos em uma realidade virtual. Se você gosta de filmes de ficção científica, provavelmente já assistiu ao filme Matrix, cuja essência está enraizada nesta hipótese. A idéia de uma realidade virtual remonta à década de 70, quando Konrad Zuse, criador da primeira linguagem computacional de auto-nível (Plankalkuel – precursora do Fortran), expôs ao mundo sua idéia. A priori esta idéia pode parecer absurda, mas não há nenhuma evidência contrária. O pancomputacionalismo prevê que todas as coisas nada mais são que programas de computador. Em outras palavras, o comportamento de todo o universo estaria sendo computado em um nível básico, tal como um autômato celular, pelo próprio universo alcunhado por Zuse de "Rechnender Raum"*(Cosmos computacional).

Compreender as implicações filosóficas do pancomputacionalismo é um problema ontológico que ainda não está bem-definido. Além disso, do ponto de vista epistemológico, não se sabe se seus componentes tais como energia, espaço e tempo, são contínuos ou discretos. Visto isto, não faz sentido aplicar nossos conhecimentos de sistemas digitais baseados em lógicas booleanas a possíveis sistemas analógicos complexos.

Se não somos capazes de observar o mundo e acessá-lo diretamente, talvez nunca saberemos se todo o cosmo é um grande programa de computador ou não. Por outro lado, adotando uma postura kantiana, poderíamos conhecer nossa representação mental do que consideramos realidade e tentar descrevê-la utilizando as ferramentas das quais dispomos atualmente.

É válido ressaltar que existe uma grande diferença entre dizer que o universo pode ser representado por sistemas computacionais, e dizer que seres inteligentes criaram uma simulação de computador e nos aprisionaram, como no caso de Matrix. A segunda hipótese é mera ficção, enquanto a primeira está relacionada à maneira como descrevemos a realidade, baseado na representação mental do que entendemos como realidade. Neste caso, a idéia do universo computacional seria apenas uma ferramenta, um modelo para descrever a realidade.

Evidentemente a idéia de vivermos em uma realidade virtual soa absurda, mas devemos lembrar que esta está relacionada à nossa concepção de realidade e aos limites de nosso conhecimento, visto que é impossível observar o universo impessoalmente pois fazemos parte deste.

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