sexta-feira, 5 de abril de 2013

Eu admiro o Marco Feliciano

Eu admiro o FDPutado Marco Feliciano. Não como líder religioso, não como pastor, não como político, e muito menos como pessoa, pois, convenhamos, ele é uma das piores pessoas que eu tive a felicidade de nunca conhecer, e a infelicidade de não encontrar para esmagar numa discussão. Ele é sem caráter, ignorante, religiosista, racista e preconceituoso. Não fui irônico quando disse que o admiro, mas devo esclarecer as coisas.
Marco Feliciano conseguiu o que diversos movimentos sociais como o Movimento LGBT vêm tentando há anos: o engajamento e posicionamento do grande público frente às (não-)delicadas questões relacionadas aos direitos dos homossexuais. Por que esta questão é tão delicada? Pois se contrapõe aos valores tradicionais da sociedade brasileira, platonicamente liberal, não obstante impregnada pelo legado conservador de uma nação de passado escravagista, que não conhece o valor da mobilização em prol da transformação, à qual tudas as mudanças lhe foram concedidas sem luta, sociedade esta que herdou valores advindos da aristocracia ruralista ligada à TFP (Tradição Família e Propriedade). E por que esta questão é tão delicada? Pela simples razão que é inconcebível alguém tentar interferir nas questões relacionadas aos direitos dos homossexuais, visto que a conquista destes direitos pelos homossexuais não afetaria em absolutamente nada a vida do grupo antagônico, no máximo seu ego.
Voltando à minha admiração por Marco Feliciano. Eu diria que há tempos não se via tanto engajamento e posicionamento político da população com relação a um tópico. Marco Feliciano e suas estúpidas ideias são a causa disto. Basta ver que nas redes sociais o assunto tomou grandes proporções quando de sua posse da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Em questão de poucos dias centenas de milhares de pessoas haviam manifestado seu descontetamento através de abaixo-assinados online, as hashtags #MarcoFeliciano ,#CDHM, #ForaMarcoFeliciano eram tendências no Twitter e ele era o personagem da vez na imprensa. Diversas imagens de pessoas dizendo que "Marco Feliciano não me representa" foram compartilhadas no Facebook. As coisas pioraram quando absurdos tweets de Feliciano foram revisitados, e mensagens de incitação à homofobia foram encontradas. Num destes tweets Feliciano diz que "a podridão dos sentimentos dos homoafetivos leva ao ódio, ao crime, à rejeição". Isto faz tanto sentido quanto dizer que a causa do aquecimento global são as crianças que não comem danoninho, ou seja, não tem sentido nenhum.
Além de declarações sexistas, Marco Feliciano também fez declarações racistas, supostamente baseadas naquele best seller de literatura fantástica chamado bíblia. Numa destas ele diz que  "Africanos descendem de ancestral amaldiçoado por Noé. Isso é fato.". Poderia focar minha argumentação aqui no fato de os primeiros hominídeos serem, provavelmente, de origem africana, e portanto seríamos todos amaldiçoados, ou na descabida ideia de que ele acredita em Noé, um sujeito que construiu um barco enorme, colocou  um macho e uma fêmea de cada espécie, e depois do dilúvio causado por um deus que é onipotente (capaz de extinguir todos os humanos como e quando quiser) e bondoso (que apesar de ser bom, resolveu castigar seus filhos inundando todo o planeta), repopulou a Terra.
O resultado das mensagens de Feliciano foi um  processo que está neste momento sendo julgado. Apesar de considerar absurdas as ideias de Feliciano, ainda defendo seu direito de expressá-las livremente em sua conta pessoal do Twitter, sem quaisquer represálias, visto que a liberdade incondicional de expressão deve, em minha opinião, prevalecer.
Marco Feliciano certamente representa um marco, sem trocadilhos, na história dos movimentos sociais no Brasil, principalmente no que tange às questões homoafetivas. Nota-se uma clara polarização entre dois grupos, a favor, e contra os direitos homossexuais. Não se sabe ainda qual grupo será vitorioso, mas a ruptura com o atual paradigma tradicionalista pode ocorrer nos eventos que envolvem a subida e possível queda de Feliciano da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Vale ressaltar que esta polarização não se restringe à simples questão homoafetiva, mas reflete, num contexto mais amplo, o embate de valores liberais e tradicionais. Por ter proporcionado esta polarização da sociedade, eu só tenho a agradecê-lo. Por angariar tantos apoiadores incapazes de pensar por si só, que estão contendo o avanço da sociedade, só me resta lamentar a existência do FDPutado Marco Feliciano.