quinta-feira, 1 de setembro de 2016

O triste dia em que vi um golpe se concretizar

O pior é o bando de ignorantes aplaudindo este atentado à jovem e frágil democracia brasileira. Estes acreditam que a Dilma deva sair por ter sido uma má governante e porque "o PT é o câncer do Brasil". Da noite para o dia tornaram-se exímios juristas conhecedores da Constituição; também sabem recitar de cor a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Estes apedeutas também acreditam que no país há dois tipos de pessoas: petistas e coxinhas. Acreditam que defender a Dilma das acusações (=defender a democracia) implica necessariamente ser petista. Há aqueles que se consideram intelectualmente superiores, e com suas ideias "liberais" tentam inventar argumentos baseados na LRF para justificar o injustificável golpe. 

Há os que dizem "é minha opinião". Opinião é você preferir azul a vermelho ou uva a banana. Apoiar um golpe (sem nem ao menos ganhar nada com isto) é falta de cérebro ou de caráter. Há também os isentões, que não percebem que sua omissão fornece suporte aos golpistas.

Não pretendo discutir com estas pessoas, pois para tal teria de reconhecê-lo(a) como meu par, e todos nós sabemos que um abismo nos separa; posso investir meu tempo de forma melhor.

O mais triste é ver Cristovam Buarque manchando sua reputação, e Kátia Abreu surpreendemente fazendo um dos discursos mais eloquentes de todos.

A imprensa internacional denunciou o golpe, e só não vê quem não quer. Claro, é mais cômodo acreditar na narrativa de que o PT é capaz de comprar o The New York Times, The Guardian, Der Spiegel, Le Monde, El Pais, e todos os maiores jornais do mundo. 

Eu sinceramente espero que estas pessoas percebam a merda que fizeram e, mesmo que atrasados, percebam que apoiaram um golpe. Será tarde demais, mas vale o aprendizado.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Letter to the Brexiters

Dear Brexiters,

Congratulations. You've managed to isolate an already isolated country from the rest of the world.

Congratulations for turning your back on the millions of immigrants who have supported UK's economic growth for decades. If you voted 'leave' you know sh%t about the way economy works and the reason why Britain was an economic power in this last decade

Congratulations for going upstream against the trend of uniting countries and human beings.

Congratulations for allowing the pound to hit a 30-year low.

Congratulations if you vote 'leave' to protect yourself from those foreign devils who come to your country with the evil intentions of stealing your money and live off government benefits (?). Perhaps you should reconsider your position - especially if you think that unskilled workers who can barely speak the language are a threat to your job.

Seriously, who would vote for leaving when those dumbasses of UKIP were leading the leave campaing with stupid "arguments" such as "Britain is stronger", "Stop immigration", etc?

Needless to say, the consequences of Brexit for Science are devastating: funding will be extinguished (e.g. ERC grants and other EU-based funds), scientists will have a hard time with mobility as stricter immigration rules will be approved by the tories and their conservative friends.

It saddens me to see a country such as the UK being so naive to think they would be better off alone. Even if this were the case, integration not separatism is the next step in the social evolution ladder.

On the plus side Scotland will now very likely gain independence and join the EU. Maybe even join the Euro. The pound is gonna be worthless after that.

For analysing things rationally and making such a smart decision, I congratulate the Brexiters again.

Now the only thing left to do is to minimise the losses and start getting ready for the consequences (which might include economic recession).

domingo, 17 de abril de 2016

Hoje eu vi

Hoje eu vi a História sendo construída, um golpe acontecendo na minha frente sem que eu nada pudesse fazer. Vi uma multidão de deputados estúpidos manipulados por uma ardilosa mente egoísta.

Hoje vi que a democracia não funciona, que o voto é uma arma muito poderosa para ficar nas mãos de apedeutas sem capacidade de reflexão e senso crítico.

Hoje vi que todos falhamos ao acreditar que opiniões divergentes, mesmo que insensatas, devem ser respeitadas.

Hoje vi o Estado laico sendo atacado e um deus vingativo que tem filhos prediletos.
Hoje vi que o Brasil está se transformando em uma teocracia.

Hoje percebi que meu país é governado por pessoas de baixíssimo nível, analfabetos políticos (alguns analfabetos funcionais).

Hoje não vi ética, não vi bom senso, não vi educação.

Hoje vi um acontecimento histórico sendo usado para mandar lembranças aos familiares, e a família sendo usada para justificar o injustificável. (Que falta faz o Show da Xuxa pra isto!)

Hoje vi agendas conservadoras sendo aplaudidas e minorias sendo atacadas.

Hoje não vi minorias, não vi muitos negros, não vi muitos homossexuais.

Hoje vi homens "de família" vaiando uma deputada por se ausentar devido à sua gravidez.

Hoje eu vi tudo isto. Outros não viram nada. Mas a História certamente verá este retrocesso.



sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Sobre ondas gravitacionais, os talentos desperdiçados e o Método Científico


Não estou escrevendo este texto para explicar o que são ondas gravitacionais - vários bons textos com este propósito podem ser facilmente encontrados. Venho aqui comentar sobre um comportamento interessante decorrente de uma grande descoberta científica. A mídia anunciou a descoberta de ondas gravitacionais, e de repente surgiram milhares de experts por aí. Fico feliz ao ver o enorme engajamento público, mas triste ao notar o analfabetismo científico que permeia a sociedade. E estes experts também compreendem perfeitamente relatividade geral, mecânica quântica e até mesmo ontologia do espaço-tempo.

Nestas horas percebo o quanto eu sou um m*$da: estudo física há mais de uma década (o que é bem pouco), fiz disto minha carreira, e ainda assim toda vez que tenho uma nova (e aparentemente revolucionária) ideia acho que alguém já deve ter pensado nisto - afinal, eu não sou tão inteligente assim. Por temer o ridículo, baseado em várias coisas que eu estudei por muito tempo (e muito tempo significa muitas e muitas horas - muito mais do que o tempo de leitura de um artigo da Superinteressante e de um documentário do Youtube), eu reflito bastante sobre estas ideias e no final algumas delas sobrevivem. Neste processo eu penso no quão coerente é a ideia, como ela se encaixa com o resto das coisas que sabemos e como podemos testa-la (comprova-la or refuta-la). 
Quando vejo as pessoas que "provaram" que Einstein está errado, que têm uma "teoria" alternativa ao Big Bang, etc, eu me pergunto onde foi que eu errei. Mesmo com tanto empenho eu não consigo conceber estas ideias revolucionárias. Nunca provei que Einstein está errado, nem unifiquei a mecânica quântica com a relatividade, nem provei que o vácuo não existe. Seriam estes talentos desperdiçados? Nas palavras de Álvaro de Campos:

Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo? 

 (trecho de Tabacaria, Álvaro de Campos)

Atrever-me-ei a responder à indagação de Álvaro: não sou mais certo nem menos certo, e de fato não tenho nenhuma certeza. E os "talentos desperdiçados", que surgem com as mais diversas ideias de cuja veracidade eles estão convencidos? Estes concebem suas ideias frequentemente absurdas ignorando o que eu considero o "espírito da Ciência": o Método Científico.

O Método Científico pode, a grosso modo, ser resumido em um conjunto de etapas:
1. Faça uma observação.
2. Elabore uma hipótese para explicar sua observação.
3. Verifique a consistência da sua hipótese em relação ao corpo de conhecimentos já adquiridos.
4. Faça previsões utilizando sua hipótese
5. Verifique experimentalmente ou observacionalmente se suas previsões estão corretas.
6. Se as previsões não estiverem corretas, sua hipótese deve rejeitada. Se estiverem razoavelmente corretas, melhore sua hipótese e repita etapas 4 e 5 até que sua hipóstese esteja de acordo com os experimentos/observações.

O Método Científico é extremamente bem-sucedido. É graças a ele que não morremos aos 35 anos idade, é graças a ele que temos computadores, e é graças a ele que chegamos à Lua. A teoria da relatividade é um exemplo deste sucesso. Várias previsões da teoria da relatividade já haviam sido confirmadas e nenhuma refutada, e por isto a teoria já era considerada um dos pilares da física moderna. A existência de ondas gravitacionais é uma destas previsões, e sua observação é mais uma confirmação da teoria da relatividade. Bastaria uma medição ou observação (devidamente confirmada) que refutasse a teoria da relatividade para que ela fosse totalmente abandonada. Eis a beleza da Ciência.

Uma questão importantíssima que poucas pessoas discutem é o real significado de uma teoria. O Método Científico garante a sobrevivência de teorias que descrevam satisfatoriamente a realidade, mas não diz nada sobre a natureza fundamental da realidade. Descrever a realidade, neste contexto, não é necessariamente o mesmo que ser a realidade. O universo pode se comportar exatamente como prevê uma teoria, ou seja, a teoria é realmente como o universo opera. A teoria também pode ser vista como uma mera descrição da realidade. O Método Científico é agnóstico com relação a estes dois posicionamentos epistemológicos.

 
Voltando aos "talentos deperdiçados", seu desconhecimento do Método Científico é o que os leva a ignorar o processo pelo qual novas hipóteses são validadas e propagar absurdas ideias sem embasamento algum. Enganam-se eles também ao acreditar que a Ciência necessariamente descreve como o universo opera (em vez de como parece operar). Esta preocupante desinformação é consequência do fraco ensino básico em todo o mundo e particularmente no Brasil. Mesmo a nível superior, o curso de "Metodologia Científica" nunca efetivamente trabalha o Método Científico e nunca aborda a as questões epistemológicas relacionadas a Ciência, restringindo-se ao invés disto a forçar pobres estudantes a aprender regras (inúteis) da ABNT. 

É hora de reformar o currículo das escolas. É hora de ensinar como a Ciência deveras funciona ao invés de bombardear os alunos com informações "científicas". É hora de mostrar como o conhecimento científico é construído. Isto evitará os lamentáveis comentários que vemos nas redes sociais quando descobertas científicas são feitas. Isto mostrará às pessoas a importância da Ciência e irá ensina-las a valorizar o trabalho científico.

sábado, 23 de janeiro de 2016

Sobre a frase "Imposto é roubo, sonegação é legítima defesa!"

Anda em ruas com calçada, dirige um carro em ruas asfaltadas, reclama dos problemas de segurança, viaja de avião, tem água em casa, utiliza serviços públicos, e depois vem dizer que: "Imposto é roubo, sonegação é legítima defesa!".

Vamos com calma, galera! Se você acha que imposto é roubo, não utilize coisas que foram regulamentadas pelo Estado e/ou financiadas com dinheiro público. Sejam coerentes com seus discursos, amiguinhos! 

Imposto só é roubo se não houver serviços estatais. A única diferença entre ter serviços privados e públicos é o provedor de serviços. Por um pagamos diretamente, por outro pagamos através de impostos. De qualquer forma pagamos. A diferença é que por um você tem a opção de não pagar. Mas já pensou como seria o mundo se você estivesse sendo sequestrado(a) e um policial da empresa de segurança que você contratou dissesse: "O pacote contratado não cobre sequestros."? Pois é, segurança é algo que felizmente é provida pelo Estado. Infelizmente, o serviço não é bom; mas esta é outra história.

Existem serviços essenciais que devem ser providos pelo Estado. Estes serviços têm um custo. A forma de pagar por isto é através de impostos. Portanto, um Estado mínimo - uma minarquia - é necessário. Você pode discordar de mim sobre quais serviços devem fazer parte disto, mas não me venha dizer que imposto é roubo fazendo uso de serviços financiados com o dinheiro de impostos. O mínimo de coerência que se espera de alguém com este pensamento é que adote uma postura semelhante à de Ayn Rand e defenda uma redução gradual na taxação de impostos.

Naturalmente você pode pensar como eu e acreditar que o Estado é um vilão por tentar regulamentar a vida de um ser vivo que nasceu em uma determinada região geográfica em uma determinada época. Você pode, assim como eu, dizer que nunca assinou o "contrato social". Você pode também, assim como eu, condenar a interferência excessiva do governo na economia [Sim, eu tenho alguns pensamentos liberais, mas não acredito na propriedade privada]. Neste caso você deve estar preparado(a) para aceitar as consequências do caos que seria a ausência do Estado e de leis. Apesar de ser simpático a esta ideia, sei que isto é (atualmente) utópico, e não estou preparado para isto. A ausência de Estado (estado de anarquia) só funcionaria se todas as pessoas possuíssem um compasso moral e um enorme senso de cooperativismo, o que pouquíssimas pessoas possuem. Resta saber se o compasso moral do ser humano é predominantemente determinado pela sociedade, como dizia Rousseau ("O ser humano nasce bom, e a sociedade o corrompe"), ou se é algo inato e imutável. 
 
Portanto, a menos que você seja um genuíno anarquista, você deve (ou deveria) saber o significado de minarquia e compreender que um Estado mínimo requer dinheiro para manter os serviços mínimos funcionando, principalmente se você compartilha constantemente links do instituto Mises. Portanto, repense sua (im)postura ao dizer que "Imposto é roubo, sonegação é legítima defesa!".