sexta-feira, 12 de julho de 2013

Carta aos médicos(as) e aspirantes a médicos(as)

Caros médicos(as) e aspirantes a médicos(as),

Antes de saírem por aí questionando a qualidade dos médicos estrangeiros, questionem a qualidade de vocês mesmos. Já percebi que vocês não sabem nada de política e de como as coisas funcionam. Então espero que vocês pelo menos saibam Medicina. (Sim, sei que existem muitas exceções a esta regra.)

O Governo já disse que os médicos estrangeiros vão ser chamados quando vocês se recusarem a ir para alguns locais do país ou quando houverem vagas disponíveis. Além disto, todos os médicos estrangeiros serão avaliados antes do início do exercício. Nenhum de vocês ainda foi capaz de argumentar qual o problema disto (como também não são capazes de argumentar sobre muitas outras coisas). Sim, em alguns destes lugares o salário é baixo, e eu concordo plenamente que deveria ser melhorado, e por isto vocês não querem ir. Mas em outros lugares, mesmo com altíssimos salários (incompatíveis com nível de muitos de vocês), vocês ainda assim se recusam a ir. Nestas horas eu começo a ver uma relação entre as palavras 'Hipócrates' e 'hipócritas', mesmo sabendo que a semelhança é mera coincidência.

Engraçado é que vocês vêm com esta atitude protecionista e xenofóbica, e alguns de vocês foram para países em crise através de programas Work & Travel com dinheiro do papai. Ninguém nestes países questionou suas habilidades de fazer seja lá o que vocês fizeram durante a viagem, e nem reclamaram de vocês roubarem um emprego em um momento de crise. (Provavelmente reclamaram sim. Mas vocês ligaram o botão de f#da-se). Acho que as limitadas mentes destas pessoas é incapaz de perceber a contradição entre discurso e prática.

Quanto às mudanças nos cursos de Medicina, de certa forma eu entendo o motivo de vocês estarem reclamando. Não se pode, ou melhor, não se deve, aumentar a duração de um curso de 6 para 8 anos sem consultar as universidades, professores de medicina, e o próprio corpo estudantil. No entanto, a atuação no SUS por um determinado período de tempo é deveras importante por dois motivos: 1) aquisição de experiência, que é um fator crucial na formação de um bom médico; 2) muitos médicos se formam em universidades públicas e, de certa forma, a atuação no SUS é o retorno do investimento que a sociedade fez nele(a).

Não sou a pessoa mais capacitada para falar deste assunto, mas acho que a comunidade médica não está atuando da melhor forma possível, e nem ao menos está conseguindo defender os argumentos para suportar sua posição (porque não há o que defender). Concordo com algumas das reivindicações da classe médica, principalmente no que tange ao inesperado e impensado aumento da duração dos cursos de medicina, mas me oponho veementemente às atitudes protecionistas e xenofóbicas que têm sido praticadas.

Sem mais,

Zaratustra