segunda-feira, 29 de outubro de 2018

About the brazilian presidential elections

To my foreign friends,
As many of you might have seen, Brazil has elected an extremist right-wing authoritarian who often flirts with fascism.
I followed these elections closely and I can assure you that the international press has done a great job in explaining what the recently elected brazilian president, Jair Bolsonaro, is, what he's done, and what he thinks. Unfortunately, most brazilians didn't get it. In any case, I will summarise some of the points:
- He was formerly in the Army, and he venerates the military dictatorship in Brazil (1964-1985).
- He recently said that the "red threat" should be banned. Sounds like Truman doctrine arrived in Brazil more than half a century late.
- In his speech during the impeachment of the former president Dilma Rousseff, he praised Colonel Ustra, who tortured hundreds of people during the dictatorship. In another occasion he also said: "everybody knows I'm in favour of torture".
- His comments about women reflect his misogynous views. According to him, "some of them can even do a good job". He believes women should earn less than man for getting pregnant. In his own words, he had four sons and after a moment of weakness he got a daughter.
- He declared that he would rather have a dead son than a gay one.
- Teaching kids to do finger guns seems to be one of his campaign strategy, which reflects his pro-guns stance.
- What worries me the most are his recent comments saying that the minorities should adapt to the majority during his government, or leave. This does smell like fascism.
For all of you who are asking how the hell did this guy get elected, I have to say that most people are politically iliterate and they were easily deceived by fake news. Every single brazilian knows someone who believes in conspiracy theories and fall for the "red-threat narrative".
Not all brazilians support Bolsonaro. I am very proud to say that the overwhelming majority of my friends are speaking out against him. We stand against racism, homophobia, misogyny, and all kinds of prejudices. We hold our personal views as such and strive to maintain a secular country. This has been very hard in light of the large reach of the neo-pentecostal churches.
Brazil is still a developing country. Most people are not well educated, crime is widespread. We are not savages. We have great people and the results of these elections do not represent us all.
I'm not sure he'll do what he promises. Honestly, I think the threat-to-democracy card has been a bit overplayed as Congress, Senate, and Supreme Court can and will hopefully hold him back. But I am frightened to have someone who legitimises hate leading the country. People are already starting to get hurt by his followers. I think the Human Rights Watch is right to keep an eye open because the situation may escalate.
Finally, I'm sorry, rest of the world, for electing the president that will f**k with our planet even more. Climate change and rainforest preservation are not in his agenda.

Uma tragédia brasileira

Nesta triste manhã de segunda-feira, 29 de outubro de 2018, tento escrever este texto. Gostaria de entender o que estou sentindo para poder compartilhar aqui, mas tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu. Este misto de tristeza e ódio me remetem ao menino de 2018 a quem de chamavam anarquista. Porém meu ódio é o melhor de mim.  Com ele me salvo e dou a poucos uma esperança mínima. 

Sei que escrevo com muito ódio, e deixo transparecer minha dor. Mas sei que uma dor assim pungente não há de ser inutilmente a esperança. Por isto, resolvi escrever este texto.

Os termos "fascismo" e "comunismo" foram usadas demasiadas vezes fora de contexto durante este período eleitoral. Nem os "vermelhos", nem eu, nem ninguém está dizendo aos trabalhadores do mundo para uni-vos. Assim como não estávamos presenciando uma ameaça comunista, quero acreditar que não estamos presenciando uma ameaça fascista. Por hora, mesmo que eu não goste do resultado das eleições, este foi um pleito democrático.  Respeita-lo-ei. Com "sorte", após algum tempo de governo ruim, veremos que os receios de um regime autoritário foram exacerbados.

Como o Brasil está em crise, acredito que qualquer plano econômico já conseguirá significativas melhoras. Acredito que o Legislativo e o Judiciário possam conter um pouco do avanço das agendas retrógradas do Executivo.

Não acredito que este seja o Reveillón de 2018 para 1964. Não quero acreditar nas coisas que aprendi nos livros. Não quero acreditar que ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais. Espero não estar errado ao supor que mesmo que os pensamentos de Bolsonaro sejam abomináveis, ele não implementará tudo o que disse (nem acho que ele seja inteligente o suficiente para tal).

Ele já legitimou, através de sua candidatura, muitos discursos de ódio latentes em nossa sociedade.  Ataques a minorias, a índios, a negros, já começaram. Não pensam os agressores que somos todos iguais, braços dados ou não. A todxs que temem por sua integridade física: não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Aos eleitores do Bolsonaro, só tenho uma coisa a dizer: a cada pessoa que for linchada - sim, é isto que seus discursos incitam e é isto que já tem acontecido - eu lembrarei de vocês. A cada universidade que for invadida, eu lembrarei de vocês. E se o que muitos temem acontecer (um golpe militar), eu lembrarei de vocês. Não permitirei que a roda viva carregue este teclado pra lá.

Muitos votaram 17 por ignorância. Perdoe o cidadão esperançado minha lembrança de ações miseráveis, que levantam os homens do passado.  No entanto, muitos decidiram conscientemente ignorar os avisos. Tomara que eu esteja errado e não chegue a este ponto, mas vocês são responsáveis pelo que acontecer de agora em diante. Apesar de vocêS amanhã há de ser outro dia.

É triste ver os filhos da revolução, a geração coca-cola, votar em capitão de zero estrelas que fica atrás da mesa com o cu na mão. Independentemente de como ele governe, já perdemos ao deixar alguém assim chegar tão longe. Já perdemos ao permitir que seu discurso fosse materializado e legitimizado.

Mas não nos entristeçamos. Vejamos isto como uma oportunidade, afinal, uma flor nasceu na rua! É feia. Mas é realmente uma flor. Esta pode ser a primeira flor da primavera. Ela pode ser a gota que falta pro desfecho da festa. Pode ser a gota d'água.





sábado, 29 de setembro de 2018

Sobre Capivaras e Bolsominions

Por mais engraçados que sejam os eventos X contra o Coiso, e por mais que eu o ache asqueroso, não participarei de nenhum eventodo gênero -- nem pra ver a família de capivaras fofinhas cruzando a rua contra Bozonaro.

Repudio todas suas "ideias" (aspas por motivos óbvios) e tudo o que ele representa. Não gosto dos seus eleitores, assim como não os respeito, apenas os tolero.

Pessoalmente, acho que a eleição do Trump nos Estados Unidos e as intenções de voto no Brasil demonstram que a democracia, se entendida literalmente considerando a etimologia da palavra, falhou. Não se pode dar poder à maioria pois a maioria muitas vezes é burra (veja as pesquisas eleitorais para presidente, primeiro turno).

Não sou alguém legal; prefiro manter meus princípios a manter "amiguinhos". Não conseguiria ser amigo de Bolsominions. No entanto, sou um defensor do livre e irrestrito direito de expressão por todos os cidadãos na esfera individual. Isto significa que não aprovo o que o Deputado Bozonaro diz, mas não tenho nada contra o indivíduo Jair Bozonaro falar merda para seus amigos no bar, por pior que seja o que ele esteja falando. Pra mim, Popper só vê paradoxo na tolerância porque não dá o devido peso às coisas, como direitos naturais. [Que venham as pedradas...]  Não entrarei no assunto dos discurso de ódio, pois tenho uma posição bem particular quanto a eles e teria que escrever um tratado para explica-la sem que seja mal interpretado.

Toda vez que penso que a democracia tem falhado e que nem todos deveriam ter o direito a voto, penso que é impossível avaliar cuidadosamente a quem o poder do sufrágio universal lhe seria permitido. Dada esta impossibilidade, acredito que a única conclusão lógica é a de que todos deveriam ter o direito ao voto. Sendo assim, a lógica me força a ser democrático.

No espírito da democracia em sua mais ampla acepção, acredito que O-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado tem o direito de concorrer a presidente. Também acredito que as pessoas têm o direito de se manifestar contra ele, e espero que as manifestações convençam alguns a não votarem nele. 

Compreendo que sua homofobia e misoginia sejam motivos para repudio, mas acho perigoso acusar qualquer pessoa de qualquer coisa sem que ele nada tenha feito como presidente. É ingênuo achar que ele vai mudar de opinião, e sua própria campanha é baseada nestes discursos repugnantes. No entanto, existe uma diferença entre prometer algo e efetivamente fazê-lo. Não quero ver isto acontecendo, por isto não votarei nele, mas não quero me mobilizar contra um candidato à presidência num estado democrático apenas para fins preventivos, sem que ele tenha efetivamente feito algo

Em resumo, não tomarei parte nas manifestações. Mas deixo aqui meu solene apoio à causa #eleNao e às próprias manifestações.

Posso estar errado, mas esta é a postura mais coerente com meus pensamentos, acredito  eu, porém, sem muita certeza.

#eleNao #eleNunca #todosContraOCoiso #todosContraOBolsonaro

sábado, 7 de abril de 2018

Réquiem das sete vuvuzelas


Da tranquilidade do meu lar, meu trabalho foi interrompido por um som ensurdecedor. Saindo do estado de foco em que me encontrava, pulei imediatamente da cadeira. Não sou religioso, e nem sequer acho que deus (sim, com 'd' minúsculo) existe (adoraria estar errado sobre isto), mas neste momento o Pai Nosso me veio à cabeça, afinal, para quem cresceu num país cristão, Pascal fora um excelente apostador. O objeto demoníaco cujo som me atormentava poderia ser a primeira trombeta do apocalipse - uma vuvuzela.

E o sol da liberadade, em raios fúlgidos, Brilhou no céu da pátria neste instante.
Foi este trecho do belíssimo hino que ouvi logo em seguida. Ora, mas quem estaria curtindo um Francisco Manuel da Silva nesta altura num sábado à noite? Me dirigi à sacada.

Eis que sou afligido pelo penetrante som da segunda vuvuzela. Pensei em mil formas de utilizar este objeto como instrumento de tortura contra quem o estava manuseando. Prefiro não expor a vocês meus pensamentos mais íntimos; mas digo que dentre outras coisas, me agradaram ideias que combinavam a vuvuzela com: fios elétricos e água, gás e fogo, cordas e caixas de som. 

Gritos de comemoração vinham das ruas, junto com a terceira trombeta. O apocalipse que João profetizara parecia se aproximar. 

Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida no teu seio mais amores.

Mas Não Existe Amor em SP. A besta se erguia à distância e de uma cabeça ouvi gritos de "Lula na cadeia, Lula na cadeia".  Nunca pensei que a bíblia pudesse ser interpretada ao pé da letra, mas admito que João quase acertou ao dizer que no apocalipse surgiria uma besta. Ele só não previu que seriam tantas!

Sem consideração pelos vizinhos, animais e por ninguém, um espetáculo pirotécnico foi iniciado. Podia-se notar que os fogos saíam das bocas de cabeças da besta. Os cachorros da vizinhança latiam em desespero, pois afinal, animais conseguem pressentir eventos cataclísmicos antes que eles aconteçam, e o apocalipse era iminente.

Voltei ao quarto, sentei-me em frente ao computador e li a notícia que o ex-presidente Lula fora preso. Lembrei do "causo" contado pelo mineiro Carlos Drummond de Andrade em A Morte do Leiteiro: "Se era noivo, se era virgem, se era alegre, se era bom, não sei, é tarde para saber". Eu diria que é cedo pra saber -- segunda instância.  E personificando a Constituição de 1988, acredito que seu artigo quinto, inciso LVII, concordaria comigo. Mas a besta tem sete cabeças (com pouco uso) e é muito barulhenta. Também há relatos da existência de uma outra besta com 11 cabeças, mas parece que só cinco delas não são decorativas.

Mas, se ergues da justiça a clava forte, Verás que um filho teu não foge à luta

Da sacada de meu apartamento em São Paulo, após mais duas trombetas ouço o hino nacional novamente. Os fogos, as vuvuzelas, os gritos e as festinhas, tudo indicava que a Copa fora antecipada. Infelizmente, não era a Copa; a desgraça alheia foi o motivo desta comemoração. Indícios de ocultação de bens e possível envolvimento em corrupção são suficientes para trazer à luz a asquerosa natureza da elite paulistana, que ignóbel à importância do ex-presidente na vida de quem estava em situação de real miséria, se sente infeliz com a diminuição da desigualdade social. Se não for por este motivo, não consigo entender o porquê de tanto ódio. Certamente não é a corrupção, pois a mesma gente que comemora a prisão do Lula como se fosse um jogo de futebol também vota naqueles-que-não-podemos-nomear, do partido que tem governado SP há tempos.

Corrupto ou não, nada justifica o macabro espetáculo que presenciei. Um homem, inocente ou culpado, estava tendo sua liberdade tolhida. Se culpado, é no mínimo triste ver alguém que tanto fez pela população se rebaixar e se envolver em crimes como estes. Se inocente, é triste vê-lo sendo condenado injustamente. Ou talvez os dois sejam, em parte, verdade. Só não vejo motivos para tantos festejos.

Após uma acalorada discussão no Facebook, cidadãos de bem (ou seria cidadãos de bens...?) esbravejavam asneiras. Seus comentários assemelhavam-se à merda que saía da boca de uma das cabeças da besta. Pessoas supostamente inteligentes faziam questão de compartilhar no Facebook que estavam "assistindo o Lula ser preso" ou coisas do gênero.

Ante às cenas de horror que eu presenciava, o som de mais uma vuvuzela soou como a badalada de um sino. Eu contemplava o episódio perplexo, com um misto de ódio pela besta que viera trazer o apocalipse, e de tristeza por ver que o apocalipse começara muito antes, quando a voz mais alta prevaleceu sobre a voz mais sensata, quando a educação falhou em formar mentes críticas, e quando deixamos política ser tratada como futebol.

Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada, Brasil.

"Está salva a propriedade. A noite geral prossegue,  a manhã custa a chegar", nas palavras de Drummond. Aguardando o som da sétima trombeta, me agarro ao último fio de esperança, e torço para que a manhã (outubro) chegue logo. Infelizmente, a demonstração de hoje indica que a posse do próximo presidente será marcada pelo som da última vuvuzela.